sábado, 20 de agosto de 2011

Desabafo de Um Catequista

Dez coisas que eu gostaria de dizer aos pais que não ajudam em nada a catequese
Confesso: eu deveria ser mais tolerante com os pais das crianças e jovens da catequese. Mas não estou conseguindo. Em muitas ocasiões, me sinto desrespeitado e desvalorizado como catequista em função desse descaso dos pais com a catequese. Isso me deixa louco.


Minha vida pessoal acaba sendo afetada. Parece incrível, mas esta inegável omissão dos pais em relação aos seus filhos me atinge diretamente. Fico pensando: Como pode um trabalho que faço de forma gratuita, voluntariamente, afetar tanto meus sentimentos, humor e paciência? Não deveria ser o contrário, ou seja, por ser com esta finalidade, que eu ficasse alegre, feliz, paciente, otimista e agradecido?

Tem sido assim. Eu mais me estresso do que me alegro. Mais me indigno que me rejubilo. Encontro mais motivos para dizer "tchau, não volto mais" do que para dizer "nos encontraremos em breve".

A inércia dos pais me irrita. Essa desconfiança e esse desinteresse pelas coisas de Deus me transtornam. Eu não consigo disfarçar a minha dor em relação isso. Preciso desabafar. Tem algumas coisas que eu gostaria de dizer a muitos dos pais que inscrevem os filhos na catequese. Mas não tive coragem de dizer tudo, de uma só vez. Mas se um dia eu disser, será num tom forte, olhando nos olhos de cada um, e estaria pronto para as reações contrárias.

Eu lhes diria:

Vocês não são obrigados a inscrever seus filhos na catequese. Por isso, se nos procuraram de livre e espontânea vontade, aceitem nossas regras e não fiquem reclamando de tudo;

O catequista de seus filhos é uma pessoa normal, que tem família, trabalho, atividades pessoais, estudam, tem problemas, alegrias, frustrações, desânimo, ou seja, sentimentos comuns a qualquer pessoa. Por isso, trate-o com mais carinho e com mais respeito. Pelo menos, tentem saber qual é o nome dele. Isso já será de grande valia.

Quando organizamos palestras, encontros e reuniões, é porque queremos construir uma ponte de relacionamento com vocês. Se não querem participar, não participem. Mas se quiserem, venham com vontade e não fiquem bufando na nossa frente ou olhando o relógio para ver que hora o encontro termina;

A catequese não é depósito de crianças e jovens que não têm o que fazer. A catequese é um lugar de aprofundamento dos assuntos de Deus. Eles precisam aprofundar aquilo que já deveriam saber através dos ensinamentos de vocês, pais. Se vocês nunca falam de Deus com seus filhos, não coloquem totalmente nas costas dos catequistas esta obrigação;

Não reclamem do tempo de duração da catequese. Isso nos entristece. A catequese é um processo contínuo. Se for um, dois, três ou quatro anos, isso não importa. Mas se você acha que é demais, não inscreva o seu filho. Vocês são livres para isso.

Não ensinem seus filhos a mentir. Estamos carecas de saber que muitos pais burlam as regras definidas na catequese, não participam de eventos e atividades, pois optam pela chácara, o jogo de futebol, o passeio ou até mesmo a preguiça. Sejam verdadeiros, não mintam e não ajudem os seus filhos a inventarem desculpas para tentar enganar os catequistas.

Se vocês são espíritas, sejam bons espíritas, mas não queiram ser católicos também. Uma coisa é bem diferente da outra. Não têm como andar junto. Uma religião prega a ressurreição. A outra prega o oposto, a reencarnação. Ou vocês são católicos ou são espíritas. As duas, não dá pra ser.

Antes de culpar a Igreja disso ou daquilo, fiquem sabendo que a Igreja são vocês também. Então, ao invés de ficarem apenas procurando defeitos, porque vocês não exercitam mais o seu catolicismo, participando de algum serviço ou pastoral e tentando observar com mais atenção o imenso esforço que muitos leigos fazem?

O dia da primeira comunhão ou crisma não é formatura. Se vocês estão preocupados com roupa, jantar e como será a festa , então seus propósitos são completamente diferentes dos nossos.

10º Por último, tratem a catequese da mesma forma que vocês tratam a escola, o curso de inglês, a escolinha de futebol, de informática e as festinhas no clube que seus filhos tanto gostam. Não precisam abrir mão de tudo isso por causa da catequese. É só dar a mesma importância. Para nós catequistas, já será bem melhor e nos fará mais felizes.

Juro para vocês, gostaria de dizer isso de uma tacada só para muitos pais. Tenho dito, nos últimos anos, não diretamente, mas indiretamente e em doses homeopáticas. Mas todo ano volto a sentir as mesmas coisas. São sentimentos que me acompanham e que me perturbam, pois eu gosto demais da catequese.

Se nada disso me afetasse, por certo, alguma coisa estaria errada na minha relação com as coisas de Deus. Não há quem não reclame, parece unânime. Se a catequese não anda melhor por causa do desinteresse dos pais, precisamos fazer alguma coisa urgentemente.

Quanto a mim, não dêem bola, meus amigos catequistas, eu sou assim mesmo. Estou apenas pensando em voz alta. E nada melhor do que desabafar com vocês escrevendo.


Texto de Alberto Meneguzzi - Jornalista e relações públicas formado pela Universidade de Caxias do Sul ( UCS), catequista de crisma há 20 anos na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes em Caxias do SuL/RS


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