terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Beleza - transmissora da Fé

Este artigo é uma adaptação, com ligeiras interferências, do texto de Inês Broshuis apresentado no Encontro Regional de Coordenadores de Catequese promovido pela Dimensão Bíblico Catequética do Secretariado Regional Leste II, em Belo Horizonte, no dia 23 de julho de 2010.

1. Que é o “belo”?

Primeiro precisamos perguntar que é o “belo”. É algo objetivo, subjetivo, intuitivo...? Por que temos conceitos diferentes do “belo”? Independente da resposta dada, o conceito de belo nos leva a entender que o bom gosto pode ser formado, educado. Compreendemos também que toda experiência de beleza é uma experiência religiosa, leva a Deus, que é a Beleza por excelência. A beleza é transmissora de fé.

2. Para perceber o belo, precisa-se silenciar

No barulho ou na agitação não se percebe o belo. A beleza é para ser sentida; não é dirigida à nossa inteligência, mas ao coração. Observar um quadro bonito, uma flor, ouvir uma música clássica, exige silêncio. O belo também faz silenciar.

O belo é o contrário do superficial. Perceber a beleza das coisas significa penetrar em sua realidade mais profunda. Quando nos encantamos com a beleza da criação chegamos à contemplação de Deus. A primeira revelação de Deus se deu na criação. A proposta da beleza é gratuita, exige tempo, contemplação, admiração... abre ao Transcendente, conduz ao mistério.

3. Para descobrir o belo, deve-se desenvolver a admiração

A admiração levou a grandes descobertas científicas. Os sábios da antiguidade diziam: “a admiração é o princípio de toda sabedoria”. Newton se perguntou, maravilhado, porque uma maçã cai de uma árvore, em linha reta, na terra. E ele descobriu que são as mesmas forças que fazem a maçã cair no chão que levam os planetas a girarem ao redor do sol. James Watt se maravilhou com o fato da tampa de uma panela com água fervendo ficar pulando e, com base nisso, inventou a máquina a vapor. Milhares de pessoas de milhares de gerações viam cair frutas das árvores, mas ninguém ficou tão maravilhado como Newton. Milhares também viram a tampa da panela pulando, mas ninguém se admirou.

A capacidade de se maravilhar é a capacidade fundamental de todos os investigadores, cientistas e descobridores. É também o impulso para aqueles que acreditam. A admiração que sentimos diante das belezas da natureza, de tudo que nos cerca, nos leva a sentir o mistério que nos envolve. Nada é “normal”, sempre está acontecendo algo bem superior à nossa realidade. Admirando o céu estrelado sentimos nossa pequenez. Ouvindo as descobertas da astronomia ficamos estupefatos diante daquilo que ela nos revela.

O sol é uma das 400 bilhões de outras estrelas da nossa Via Láctea. Os astrônomos acreditam que há cerca de 100 bilhões de galáxias no universo. Em cada uma dessas galáxias existem centenas de bilhões de estrelas. Nenhuma galáxia do universo está parada. Todas estão em movimento e se distanciam umas das outras a uma velocidade impressionante. O universo é um acontecimento, uma explosão. Diante da grandeza da natureza exclamamos: “O céu manifesta a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos!” (Sl 19,2).

O que dizer da maravilha do corpo humano? O corpo humano tem cerca de 100 trilhões de células. Dentro de cada uma dessas células há um núcleo. Cada núcleo contém 46 cromossomos, agrupados em 23 pares. Os cromossomos são compostos de cordões helicoidais do DNA. Genes são segmentos de DNA que arquivam instruções para fabricar proteínas, os tijolos da construção da vida. Que maravilha é o nosso corpo! Que mundo de segredos, de maravilhas contém! Podemos dizer que tudo é normal? Que não há nada a admirar?

O modo com que meu corpo e minha mente funcionam é outra maravilha. Cada órgão, cada parte do cérebro é um mundo incrível. Admirável é também que cada ser humano é único. Não há repetição. Cada um é um indivíduo irrepetível. O nascimento de uma criança é uma nova maravilha. Podemos dizer que sempre presenciamos um milagre. Viver é um milagre.

Admirável também é a capacidade que o próprio ser humano tem de questionar, de penetrar os segredos da natureza e descobrir o funcionamento. Basta pensar na tecnologia, na informática, na comunicação e na engenharia. Diz o Salmo 8: “Que é o homem, para dele e lembrares? Tu o fizeste pouco menos do que um deus e o coroaste de glória e esplendor”.

4. A beleza na catequese

Somente quem é capaz de admirar, de se maravilhar, é capaz de contemplar, de mergulhar em Deus e em seu mistério, cair em silêncio profundo e se entregar! Devemos desenvolver em nós e em nossos catequizandos o dom de admirar, de maravilhar-nos. Vivemos dentro de um grande mistério: Deus. Através do belo, fazemos a experiência de Deus. Cada encontro catequético deve levar à experiência de Deus. Como podemos criar em nossa catequese um ambiente que favoreça o silêncio, a admiração, a contemplação?

Quando entramos numa igreja bonita, limpa e organizada, o próprio ambiente nos leva ao silêncio. A ornamentação, a luz que passa pelos vitrais, algumas imagens de bom gosto, a luz do sacrário... tudo nos faz contemplar o belo. Também o ambiente da catequese deve levar a isto. Em geral, não temos um espaço próprio e os centros comunitários e paroquiais não contribuem para se criar ambiente onde se sinta o Sagrado.

Devemos preparar, de antemão, o ambiente e, para isto, estar no local pelo menos 15 minutos antes de começar o encontro. A sala limpa, algum cartaz bonito sobre o tema (não muitos), uma mesinha com toalha, alguma flor ou planta bonita (natural), uma estante para a Bíblia, uma vela acesa, cadeiras em círculo... Tudo isso expressa zelo, cuidado, contemplação, comunicação que revela a beleza da mensagem cristã. A(o) própria(o) catequista faz parte deste ambiente. Ela(e) se comunica: 70% com a postura (roupa decente, atitudes dignas); 25% com a voz (tom suave, boa articulação); 5% com o conteúdo (bem preparado).

É preciso cultivar o silêncio. O contrário do silêncio é o barulho, a bagunça, a agitação, a desordem, o desequilíbrio. Podemos fazer exercícios de silêncio, ouvir alguma música suave (mantras), selecionar bem os cantos. As gravuras precisam ser de bom gosto, principalmente as que retratam o Cristo. Devemos evitar imagens ou desenhos de Deus e reforçar as imagens de Deus contidas na Bíblia. É muito importante que o catequista cresça na arte de narrar. Basta lembrar as narrativas bíblicas, como as que se encontram nos Atos dos Apóstolos...

Símbolos são objetos que transmitem uma realidade interior mais profunda que o objeto apresentado. A Liturgia se expressa (além da Palavra) por gestos e símbolos: água, vela, pão, vinho, óleo, espaço, vestes, vestes, silêncio, música, imagens, Bíblia, expressão corporal... A Liturgia é escola de beleza pela riqueza de seus símbolos. Nós podemos usá-los também na catequese, ligando-os à vida de cada dia. Plantas, flores, retratos, pedras, tudo pode se tornar um símbolo. O símbolo não toca as pessoas do mesmo jeito. O sentido mais profundo é diferente para cada um.

A Bíblia é um livro cheio de poesia e linguagem simbólica que pode inspirar a catequese e a oração, como acontece com os Salmos. Na catequese não pode faltar formação para a oração. Se a catequese não ensina, onde a pessoa vai aprender a orar? Devemos, então, ensinar fórmulas meditadas, orações espontâneas, celebrações, culminando na oração silenciosa e contemplativa.

Colaboração: Carlos Gomes - Paróquia São Luís Maria de Montfort
Fone: http://dioceseitabira.org.br

EM TEMPO: dedico este selinho a todos aqueles que no seu dia a dia procura mostrar a beleza de Deus nos seus gestos diários, na sua família, no seu trabalho, no relacionamento com as pessoas, nos grupos da igreja.

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