Quando vemos os conflitos e guerras que sangram o mundo atual, nos damos conta de como seria importante que as Igrejas cristãs se unissem em uma ação conjunta em favor da paz e da justiça internacional e conseguissem mobilizar em um diálogo profundo as outras religiões a serviço das melhores causas da humanidade.
Uma das mais profundas graças divinas do nosso tempo é que existem muitas iniciativas de diálogo e de busca de unidade entre as diferentes Igrejas. Uma das mais importantes é a Semana de oração pela unidade dos cristãos. A cada ano, no hemisfério norte, em janeiro e no sul do mundo, nos dias que antecedem a festa de Pentecostes, várias Igrejas consagram uma semana à oração e ao diálogo pela unidade dos cristãos. Isso ocorrerá nesta semana e, em todo o Brasil, contará com cultos ecumênicos, encontros de oração e iniciativas de diálogo entre as Igrejas. A cada ano, uma federação local de Igrejas escolhe um tema comum. Em geral, estes temas têm sido propostos por Igrejas do mundo dos pobres. Neste ano, o tema escolhido vem da descrição que a Bíblia faz da primeira comunidade cristã em Jerusalém: “Unidos no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2, 42).
Mais do que uma descrição da realidade, a unidade da primeira comunidade cristã é uma proposta de vida e um objetivo a ser alcançado por todas as Igrejas. Sempre que se conseguiu atingir este ideal, foi em meio à grande diversidade de culturas e de formas de expressar a fé. No tempo do Novo Testamento, uma parte das comunidades cristãs era de pessoas vindas do Judaísmo, marcadas pela tradição judaica. Na mesma comunidade, havia irmãos e irmãs convertidos de cultos orientais e do mundo cultural grego. Mesmo a partir desta diversidade cultural e teológica, havia uma unidade de fé e ação. Conforme o livro dos Atos dos Apóstolos, esta unidade deve se basear no ensinamento que os discípulos receberam de Jesus, na comunhão da vida, na repartição do alimento e nas orações em comum.
Este ensinamento dos apóstolos se concretiza através do testemunho dos irmãos e irmãs que viram Jesus ressuscitado, presente na comunidade. O mais importante sinal desta presença divina é a “partilha do pão”, a Eucaristia, sinal eficaz da presença de Jesus ressuscitado entre nós e profecia de uma comunidade humana baseada na fraternidade e na partilha da vida e dos bens.
Hoje, “unir-se em torno do ensinamento dos apóstolos” chama as Igrejas a se constituírem como Igrejas pascais, abertas à missão e capazes de dialogar com o mundo atual. A comunhão fraterna e a repartição do pão recordam que a vocação da Igreja cristã é ser profecia de um mundo novo e de partilha.
A unidade dos cristãos não é um projeto apenas eclesiástico. Deseja unir as comunidades que crêem em Cristo no serviço solidário para construirmos juntos um mundo de comunhão e de paz. Afinal, segundo o evangelho, na véspera de sua paixão, Jesus orou ao Pai: “que todas as pessoas que crêem em mim sejam unidas, como Eu e Tu somos Um, para que o mundo possa crer que Tu me enviaste” (Jo 17, 19). Nestes dias em que oramos especialmente para que o Pai derrame sobre nós e sobre o mundo os dons do seu Espírito, é importante que a nossa arquidiocese se apresente como uma Igreja acolhedora e aberta ao diálogo e à colaboração com todos pela paz e pela justiça no mundo.
Por: Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife – PE
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