CATECISMO OU CATEQUESE

Lembro-me muito bem que nos meus tempos de criança, meus pais me mandavam para o catecismo. E lá eu ia. Minha catequista chamava Vitalina, ou melhor chama, pois a mesma já bem idosa continua lá na mesma casa, com sua devoção e orações. Sempre que posso vou visitá-la ou encontro a mesma na igreja onde até pouco tempo era Ministra da Eucaristia. 

Sou catequista desde 2009 e um dos motivos que me levaram a isso foi meu amor e carinho pelas crianças, este amor que nosso Mestre Jesus soube tão bem mostrar. 

Mas bastante preocupado com os caminhos que a catequese na nossa paróquia tem percorrido tenho lido bastante sobre alguns temas e repasso este que me chamou a atenção, pois trata da diferença entre o catecismo e a catequese.

          Com a leitura do Diretório Nacional de Catequese, vamos perceber que ele não quer ser uma "camisa de força", ou simplesmente um catecismo, mas "deseja traçar critérios de ação catequética, orientar, coordenar e estimular a atividade catequética nas diversas regiões. Apresentando uma catequese litúrgica, bíblica, vivencial, profundamente ligada à mística evangélico-missionária, mais participativa comunitária".

           Uma cena comum: a mãe chega a uma paróquia perguntando o que é que precisa para matricular as crianças no catecismo. Quer saber quando serão as aulas, quando termina o curso, qual é o material escolar que o/a catequista vai pedir. Então a coordenadora pode explicar que a catequese não é curso como na escola, nem é sinônimo de aprender catecismo.

          Será que a mãe vai entender? Será que a própria comunidade entende? A maioria dos catequistas ja ouviu falar que catequese não é mais o "catecismo" que está na lembrança de seus pais. Mas a experiência mostra que muitos não sabem direito onde fica a diferença; outros se perguntam se não se ensina mais a boa e antiga doutrina. A maioria talvez entenda que isso se resolve substituindo o velho catecismo de perguntas e respostas (e ainda ha quem use), por um livro mais ilustrado, com linguagem mais fácil e mais adequado. Em outras palavras, catequese continuaria sendo sinônimo de catecismo, mas se trataria de um catecismo mais moderninho.

          Então seria útil esclarecer um pouco os termos. Catecismo é um livro, maior ou menor, conforme o destinatário, que contem um resumo daquilo que a Igreja crê. O nosso antigo catecismo de perguntas e respostas vem do tempo do Concilio de Trento (século XVI). Foi muito importante numa época em que era preciso esclarecer bem as coisas para evitar confusões doutrinarias. Com ele se garantia que, apesar das dificuldades de comunicação e da pouca instrução da maioria dos/as catequistas e dos catequizandos, todo o povo católico recebesse a doutrina que a Igreja queria comunicar. Como era decorado servia muito bem ate para a grande parte da população que não sabia ler. Os tempos mudaram e as necessidades da catequese hoje são outras. O novo catecismo da Igreja Católica não é feito diretamente para o povo: é um livro grande, mais completo, com linguagem teológica dirigida aos bispos e para as pessoas que vão criar a catequese de cada região. Não é mais para decorar; é para ser consultado quando se tem duvida ou quando se quer fazer algum trabalho sobre os temas que lá estão explicados. É como se fosse um dicionário: qualquer pessoa que queira escrever bem, corretamente, deve ter um dicionário em casa e não pode desprezar o que o dicionário diz sobre as palavras que quiser usar. Mas ninguém aprende a fazer literatura decorando dicionário, não é mesmo?

          A introdução que esta no catecismo da Igreja Católica diz que ele serve para ajudar a fazer outros "catecismos", com recursos pedagógicos e linguagem própria para cada grupo que quiser atingir. De um jeito ou de outro, catecismo continua sendo o que dissemos no começo, um livro que contém o resumo daquilo que se crê. E catequese, o que é?

          Catequese é o processo de educação da fé. Pode ser feita com ou sem "catecismo" (um livrinho com o resumo daquilo que se aprende). O que se vai aprender na catequese estará de acordo como o que ensina a Igreja, é claro. O conteúdo do catecismo, devidamente adaptado à idade e a condição dos catequizandos é um dos elementos da catequese. Mas o processo catequético engloba muita coisa que não esta em livro: o contato com a comunidade, a participação nas celebrações e nas atividades da paróquia, a conversa sobre a vida de cada um, do bairro e dos pais, o confronto da Bíblia com a vida, a criação de um clima que favoreça a oraçao, o acolhimento mutuo entre catequistas e catequizandos, a leitura critica da realidade e do momento histórico que estamos vivendo, a criação de laços com pessoas que desempenham diferentes funções na comunidade, a educação para a efetiva prestação de serviço aos necessitados, a busca de um espírito ecumênico que favoreça o relacionamento dos católicos com outros cristãos, a reflexão que leve a superação de preconceitos, e muitas outras coisas que a vida sempre imprevisível pode sugerir.

          Ter um livro que se chame catecismo pode ajudar ou atrapalhar, dependendo da maneira como for utilizado.

          Ajuda se for correto, atualizado, adequado a seus destinatários e se for usado com liberdade, para sistematizar e resumir alguma coisa que se aprendeu. Deverá ser colocado no seu devido lugar, como um dos instrumentos a serviço de um aspecto da catequese. Pode ser muito útil para dar segurança ao catequista.

          Atrapalha se for usado como único conteúdo, substituto de todas as outras coisas que a catequese precisa proporcionar como experiência de educação da fé. Pode atrapalhar também ser for inadequado ao nível de compreensão e interesse dos destinatários, se for transformado em instrumento isolado de verificação do sucesso da catequese, ou se bloquear a livre expressão das pessoas envolvidas no processo.

          Há coisas que é preciso saber; mas catequese é mais do que aprender a doutrina, é viver uma experiência que ajude a aprofundar e valorizar a fé.

Pe. Paulo Pires

Assessor Diocesano de Catequese