“Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20).
Por Pe. Joaquim Calegari, msj*
A Igreja nasceu do mandato missionário de Jesus e do envio do Espírito Santo aos Apóstolos. Por isso esse tempo entre a Páscoa e Pentecostes é um tempo muito especial na vida e espiritualidade da Igreja. Não se trata, necessariamente, de um tempo cronológico, mas de um tempo de tomada de consciência e de assumir a vocação de discípulos-missionários.
Analisando a prática litúrgica-pastoral da Igreja, podemos constatar que, para muitos cristãos, a boa nova da Ressurreição de Jesus deixou de ser uma novidade para ser apenas algo antigo que eles vêm ouvindo há anos e que não mais os sensibiliza. Como então podemos falar da vida nova que surge da Páscoa e de um novo Pentecostes? Tomemos como exemplo o testemunho dos apóstolos e das primeiras comunidades cristãs que fizeram desse tempo um tempo de profundas transformações.
Na manhã do primeiro domingo da Páscoa, Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, foram ao túmulo de Jesus e nada encontrou, mas recebeu dos anjos a alegre notícia da Ressurreição (Cf. Lc 24, 5-6). Elas acreditaram no que viram e ouviram e foram logo contar aos outros. Os apóstolos, porém, apesar de terem recebido o Espírito Santo, soprado pelo próprio Jesus sobre eles no entardecer daquele mesmo dia (Jo 20, 19-22), levaram ainda cinquenta dias para acreditar.
Porém, na experiência de Pedro e Paulo esse tempo chegou e tudo mudou na vida deles. Pedro depois de receber o Dom do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, deu testemunho da Ressurreição de Jesus diante de milhares de pessoas (At 2, 14-41) e daquele dia em diante tornou-se uma nova pessoa. Ele passou a obedecer cegamente ao Senhor, sem medo algum pelo que pudesse advir disso, mesmo que resultasse em sua prisão ou morte. O Espírito Santo transformou-o de um simples covarde em um poderoso evangelizador e um destemido líder da recém-criada Igreja de Cristo. Paulo, depois de seu encontro com Jesus a caminho de Damasco (Cf. At 9,4), viu sua vida mudar completamente. Ele ganhou novos olhos. Embora vendo as mesmas coisas de sempre, descobriu novos valores que antes não via. A experiência de Damasco clareou a sua vida e o ajudou a atravessar momentos difíceis. Ele foi sendo preparado para a missão e de perseguidor dos cristãos, se tornou um fervoroso discípulo de Jesus, fundador, organizador e animador de comunidades.
Temos também o testemunho missionário de muitos cristãos anônimos que, movidos pelo Espírito Santo e fiéis ao mandato de Jesus, saíram de si mesmos e de seus comodismos para partilharem o dom da fé. É o caso dos cristãos que fugiram da perseguição em Jerusalém e se espalharam por toda a redondeza (Cf. At 8, 1.4) e dos cristãos de Chipre e de Cirene que foram a Antioquia e anunciaram o Evangelho também aos gregos proporcionando ali a conversão de grande número de pagãos para Jesus (Cf. Atos 11, 20-21).
Assim sendo, podemos concluir que da Páscoa ao Pentecostes temos um tempo oportuno de renovar a esperança e o ardor missionário, animar a vocação e repensar a missão. É tempo de nos livrar do velho fermento do pecado que nos impede de reconhecer a grandeza da Ressurreição de Jesus e proclamar com alegria que o Cristo Ressuscitado está mudando nosso proceder de cristãos medrosos e acomodados.
Sabemos que a missão, desde o inicio da Igreja, não foi obra fácil. Porém, ainda hoje, ela é indispensável para o anúncio do Evangelho, a edificação da Igreja e a implantação do Reino de Deus no mundo. E para atingir a sua realização mais plena, ela depende da participação de todos os batizados. Cada um, ao seu modo e ao seu tempo, deve dar a sua colaboração. Não desejemos que ela seja algo grandioso ou obra de especialistas, pois muitos dos acontecimentos mais significativos do plano de salvação de Deus, presentes na História da Igreja, não foram iniciados por bispos, padres ou líderes oficiais da Igreja, mas por cristãos simples e desconhecidos.
Coloquemo-nos sob a orientação do Espírito Santo e participemos ativamente da missão evangelizadora da Igreja. Não esperemos que outros a realize em nosso lugar. Se nos sentirmos despreparados e incapazes, devemos acreditar que o Cristo Ressuscitado está conosco e nos capacitará para a obra que devemos realizar. Importa ter consciência de que a missão é de todos nós e que ela não pode parar. Portanto, querido irmão e querida irmã, utilize-se de seu anonimato para anunciar a um vizinho, companheiro de trabalho, parente, amigo ou até inimigo a boa nova sobre o amor de Jesus. Faça-o discretamente e sem estardalhaço, mas faça-o de coração. Não se envergonhe de Jesus e de seu Evangelho e seu testemunho sincero fará grande bem a quem você nem imagina. Grite com alegria e vibração: Jesus Ressuscitou! Aleluia! Aleluia! Vem Espírito Santo vem!
*Reitor do Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida – Aparecida do Taboado MS -
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