"A  boa família é aquela que,  até  quando não nos compreende, quando desaprova alguma escolha  nossa, mesmo assim nos faz sentir aceitos e respeitados. É onde sempre  somos queridos e onde  sempre temos lugar"
Esta frase é da grande escritora Lya Luft, e apesar de não conhecer seu trabalho, tenho lido alguns artigos seus e especialmente os que tratam da problemática da família. Admito que gosto muito do que li até o momento. E como aprecio muito este tema quero compartilhar com todos aqueles que tem filhos e esperam encontrar meios que possam ajudá-los neste difícil tarefa de educar, de estar convivendo com esta gama enorme de problemas que temos enfrentado para criá-los; para encontrar forças e meios para manter a instituição família como base de uma sociedade sadia.Acredito que podemos ganhar muito com as experiências de outras famílias.
Segue este texto, encontrado na revista Veja no ano de 2004.
 Talvez  sendo rigorosa, creio que nas escolhas importantes revelamos o que pensamos merecer.  Casamento, trabalho, prazer, estilo de vida, nos cuidados ou nos descuidos –  não importa. Mas a família, esse chão sobre o qual caminhamos  por toda a vida, seja ele esburacado ou plano, ensolarado ou sombrio, não  é uma escolha nossa. Porque lhe atribuo uma importância tão  grande, para o bem e para o mal, ela tem sido tema recorrente de meu trabalho,  em livros, artigos e palestras. 
  Pela família, com a qual eventualmente nem gostaríamos de conviver,  somos parcialmente moldados, condenados ou salvos. Ela nos lega as memórias  ternas, o necessário otimismo, a segurança – ou a baixa auto-estima  e os processos destrutivos. Esse pequeno território é nosso campo  de treinamento como seres humanos. Misto de amor e conflito, ela é que  nos dá os verdadeiros amigos e os melhores amores. 
Para  saber o que seria uma família positiva (não gosto do termo "normal"),  deixemos de lado os estereótipos da mãe vitimizada, geradora de  culpas e raiva; do pai provedor, destinado a trabalhar pelo sustento da família,  sem espaço para ter, ele próprio, carinho e escuta; e dos filhos  sempre talentosos e amorosos com seus pais. A boa família, na verdade,  é aquela que, até quando não nos compreende, quando desaprova  alguma escolha nossa, mesmo assim nos faz sentir aceitos e respeitados. É  onde sempre somos queridos e onde sempre temos lugar. Idealização?  Não creio. Fantasia é esperar que pais, irmãos e também  filhos nos aprovem integralmente. 
  Para começar, pai e mãe são seres humanos como quaisquer  outros. Quanto aos filhos, se crescerem de uma forma saudável, eles serão  menos centrados nos pais do que em sua própria vida. Isso não é  desamor, é amadurecimento e autonomia. A nós, adultos, cabe continuar  a ter para eles ombro, colo, abraço, o possível entendimento, não  lhes pesando demais quando buscam seus caminhos. 
  Nenhuma relação subsiste – a não ser as doentes –  sem conflitos e a manutenção dos espaços individuais. A família  não está condenada ao "para sempre, ainda que a indiferença  ou o abandono nos matem em vida". Ela tem chance de uma transformação  positiva. Não precisamos ficar juntos por preconceito alheio, acomodação  ou culpa, mas porque nos faz bem, porque isso nos torna seres humanos melhores,  capazes de ter – e de dar – mais felicidade. E, mesmo que nos separemos,  ou porque os filhos vivem suas vidas ou porque às vezes pais se separam  (sem deixar de ser pai e mãe daqueles filhos), o amor deve persistir, e  expandir-se na forma de respeito e aceitação do outro. 
  Assisti recentemente a uma cena pungente, em que pai e mãe, separados mas  amigos, despediam-se de uma filha muitíssimo amada, morta em plena juventude.  Sofriam uma perda inimaginável, que lembrava a todos nós, seus amigos,  a nossa própria fragilidade. Nunca esquecerei a dignidade desses pais no  sofrimento, os cuidados um com o outro, a inclusão de amigos e novos cônjuges  no seu momento trágico. Dessa forma, prestavam uma homenagem ainda mais  especial à filha que perdiam. 
  Seria comum essa transformação e multiplicação de  afetos, na dor e na alegria, se, em lugar de egoístas, patéticos  e confusos, fôssemos mais generosos, maduros e equilibrados. Nesse caso,  porém, escritores, psiquiatras, antropólogos, sociólogos  e tantos outros profissionais da alma humana ficariam privados de uma intrigante  fonte de trabalho e reflexão. 

 
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